quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Seu mesmo diálogo



Cabeça vazia de pensamentos desprendidos de uma única definição que nem sei definir. A voz não fraqueja em dizer a si mesmo onde foi que os passos perderam-se dos pés cansados. Já são poucos os rastros deixados no chão sujo.

- Não vistes que há um desvio em seu rumo?

- Não penso em seguir.

-Teve-o nas mãos e de longe nada poderás fazer. Pois não dizes o que senti e não senti o que dizes, talvez a vaidade da mais bela das vaidades, aquela constante de calar-si.

-Boca absurda! Insiste em cuspir palavras que seguem a seco a loucura que não foi. Contente-se em ir até onde pode ser ouvida.

-E por que vós tendes de cultivar a poeira dos pés? Apareces diante dos olhos e o que fazes é consentir em abafar-me?

-Cale-se. Tu és apenas uma voz.

-E tu apenas um corpo fechado sem própria vontade no vácuo de seus desejos. Surdos do grito de dor e do riso de prazer. Presos aos pés indagados na interrogativa duvidosa e perdida de uma quase certeza.

Muitas foram às palavras de acuse. Os princípios das respostas ditas, silenciadas e proclamadas. Conversaram por horas, andando lado a lado na mesma calçada. Curioso foi ver o efeito que causavam diante aqueles que os cruzavam, certamente, conservou-se o mudo e o falante. Ambos sabiam que tinham razão, o que não entendiam é porque discordavam.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sujeito Oculto

Não existe saída nesta rua de mão única. Que fosse pelo menos uma interrogativa ao fim da frase não entendida. Fazer jus da citação mal formulada. Não foi indagado. Foi apenas uma letra minúscula de uma palavra que nem próxima do ponto final esteve, ou da vírgula que mostrasse que ganhou uma pausa curta antes de continuar.

O sentido implícito do objeto direto: existia uma flor. Na verdade o complemento do verbo não foi claro. Oculto o verdadeiro sentido. Certo, manteremos a transparência. Sujeito simples. Ele ama. Difícil de interpretar. Seria um problema de caligrafia? O silêncio ensurdece o cego de coração e mudo de palavras impalpáveis. Um paradoxo pouco controverso.

Procure um substantivo que acuse este desprovido solitário. Não qualquer um. Sejamos corretos. Um substantivo abstrato que nomeie um sentimento que dependente de outro. Seria estranho se plagiássemos Narciso. Então não caberia um substantivo concreto, que vem a ser próprio. Ele se apaixonou por seu reflexo. Não houve outro.

Na classificação de pronomes que identifique o sujeito, a pluralidade se faz singular. Teu possessivo jeito de não aceitar o demonstrativo, esta flor. A morfologia de um mais um pronome indefinido, vagamente a tal senhoria. Isso nos leva a um relativo comum, do qual há ausência de relativo comum.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Equívocos

Acontecem pelas palavras ambíguas. Aquelas que protestam, mas acompanham o seu inimigo mortal. Ditas de maneira rápida e que seguem lentamente a cada ouvido impreciso. Ou ainda, se propõe a clarear uma discussão de ideias e reage como combustível altamente inflamável.

Estampam a mais pura e inocente beleza de coisas esdrúxula. Feias e mais horrores. Escondem-se e colocam em evidências as convergências e deficiências alheias dos olhos estrábicos.

São geralmente, esquizofrênicas e serenas de plenitude mística de um mesmo coletivo em andamento. Preocupam-se em parecer humildes, mas carrega a grande sombra da empáfia de tudo isso e pouco mais. Ainda, soma valores, subtrai valores. Multiplica e divide-se em muitas faces confusas de um só enredo.

Tudo isso nos faz concluir que: o maior vilão não é aquele que se alto intitula por suas malvadezas profundas. Destrói e desconstrói uma realidade afim de seus desejos, apagam estrelas, queimam poemas e matam a esperança.

Nem o protagonista poliano que bilha em vitalidade e prolifera a bondade para as pessoas, aos veados que brincam no bosque e as borboletas que sobrevoam as flores perfumadas no campo a luz sol amarelo.

Contudo, culpemos os imparciais que aparecem inicialmente como figurantes, mas são os verdadeiros personagens antológicos. Não se assumem como antas, dizem sim e movimentam com a cabeça o não. Assim caracterizando o grande equívoco de sua própria existência. Protesto!

Transição





Homem contemporâneo de si mesmo. Amadurecem pensamentos, sonhos, sentimentos. Amadurecem as bananas, mas eu não gosto de bananas. Sua nova forma abstrata de segredos, detidas por sensações que arruínam a outros.

Reforma física. Mudam cabelos, muda-se a face. Aumentou a libido. Um, dois, três corpos. Cresceu em demasia que devorou olhos a secar friamente o que outrora precisava.

Nasce com a manhã. Plena, de céu azul, sol amarelado e nuvens brancas. Deita-se como a noite, despida de luz no breu enigmático sem luar. Poucos vêem suas mãos tremulas a espera do que não veio.

Nada se prendia em nada. Era novo. Não se conhecia diante do espelho. Questionou memória, consumiu lembranças. Desconstruiu seus membros. Bebeu um gole seco de amargura. Compreendeu o desequilíbrio que sofria por excesso de equilíbrio.

Acordou. Viu uma nova ótica. Aquela agressiva que repudiava tudo o que já havia sido. Pegou suas chaves e partiu. Não sabia o que pensar nem aonde ia. Cruzou a porta sem nenhuma tradição. Distinto, nada era igual à antes. Nem mesmo seu nome que se perdeu com o medo que o seguia. Nunca mais olhou para trás.

Impaciência

Errata. Condição proveniente de algo que a princípio mostrou-se certo, e ao entardecer mudou de lugar. Seria um epilogo esboçado por um poeta que se viu obrigado a esquartejar um personagem que não se sabe em qual história narrar.

Deixe-o ir. Segure a maçaneta e abra a porta. Como se fazer com tanto descontentamento? Há uma receita para isso ao fim do livro se o ler até lá. Gosto sim do dilúvio de palavras e expressões, mas que valor se atribui se os motivos que uma hora me prendiam agora me desmotivam.

Não me preocupo com a imagem imperfeita, talvez insignificante que causo. Conheço valores e busco definir outros ainda em formação. O ser humano, complexo de sistemas, tecidos células. Ignorante a ponto de não saber a razão de sua razão.

Sigo de maneira fiel o conceito progenitor de outros. Seus descendentes não são totalmente sacrificados. Livros são divididos em capítulos com muitos títulos e subtítulos que o formam, enumerados de acordo com seu grau de coerência.

O que vem depois sempre será consequência. E neste caso o que se antecedeu são meus maiores feitos e junto a estes permanecerei. Há três ângulos de 120º que em paralelo formam um polígono de base reta. Existe uma limitação e este é o meu limite.


Dês




Diz ao olhar que o segue rumo sem fim, passos rápidos sumindo ao longe. Suas cores desbotaram. A desarmonia da conotação dês. Desfigurado, persiste em apreciar o descaminho destemido que tomou.


Ainda sobre vocábulos dês, designa que por vontade própria não foi, ou se foi, foi sozinho. Desamor. Devia o destino desenhar simetricamente o óbvio, assim como desamarrar os sapatos. Pouparíamos o descompasso desordenado de pernas desaceleradas.


De fato, o homem segue com sua mala. Deselegantemente, sem preocupar-se com o seu desafeto a outro, ao menos uma desavença que condiz que em algum momento, mesmo discordando do desacerto de um desconhecido, importou-se.


O outro desejou que fosse descartável. Como fora desembarcar num porto destruído? Sentia-se desvalorizado, embora os deslumbrados apaixonados dissessem pelas bocas, a desventura destorcida de um que ficou desassossegado, como a água que correu sem ter onde desaguar.


Em último, tentou descontinuar a espera. Não queria desatinar novamente. Sem palavras, desprender-se da história que depois de muito, desacreditou. E sem mais, procurar a desculpa, tirar a culpa de si e seguir. Era o que lhe cabia.