De noite, senta-se e escreve num postal tudo. Apoiado pelos cotovelos pensa em achar aquilo que lhe foi perdido, havia tomado distância grande do pequeno mal que carregava. Distância, de si mesmo. Enganou-se. A imperfeição do que lhe parecia perfeito alojou-se em seus órgãos. Rins, fígado e coração.
Amor sem fim, cruel aquele que o tem. Tão puro e doce se o ver de fora. Indigesto em meio à ânsia de um sonho inútil. Disperso sem precisão. Não era a hora! Começou sozinho aquilo que devia ser feito a dois. Egoísta incompreendido.
Não havia como se defender. Fugir para longe é comprimir o que se tem diante da face e guardar no bolso. Bastasse o que já tinha. Aos seus olhos, tudo era preto e branco. Surpresa foi ver ao longe o cinza.
Estúpido sentimento. Complexo aos seus ouvidos. Pesado para levar nas mãos. E que o fez voltar em si e muitas vezes contradizer-se. Correr desconjuntado sem trajeto. Nada saía de seus punhos. Já não podia escrever. Selou, enviando sem destinatário a lugar algum.
O desejo o consumia ao poucos. Lentamente como um veneno fatal a circular pelas veias. O ritmo da respiração embala o canto sereno da morte. Seria mais um cadáver estirado contra parede, na confusão de seus próprios sentidos. Fazia frio. Morreu de amor.